Passo a passo: aprenda como degustar vinho igual um profissional

Dominar essa arte não é um privilégio de sommeliers experientes, mas sim um processo que se desenvolve com prática e conhecimento

Homem fazendo uma análise olfativa de um vinho. Foto: Canva

O universo dos vinhos é um mundo fascinante e complexo, repleto de nuances que podem ser exploradas por qualquer pessoa. Saber como degustar um vinho, desvendando seus aromas e sabores pode ser uma experiência gratificante, que vai muito além de simplesmente beber.

A degustação de vinhos é uma experiência que envolve todos os sentidos, apreciando suas características visuais, olfativas e gustativas. E dominar essa arte não é um privilégio de sommeliers experientes, mas sim um processo que se desenvolve com prática e conhecimento.

Se você deseja ir além de simplesmente beber um bom vinho e aprender a apreciá-lo como um profissional, então acompanhe este guia passo a passo, onde iremos explorar elementos essenciais, desde a escolha da taça até a análise dos aromas e sabores complexos.

Preparando o ambiente

Antes de tudo, é importante ter um local adequado para realizar a degustação. Escolha um local calmo, com boa iluminação e livre de aromas que possam interferir na análise. A luz natural é ideal para observar a cor do vinho sem distorções. Se acaso estiver em um ambiente fechado, utilize uma luz branca neutra.

Outro ponto fundamental para uma degustação profissional é a temperatura dos vinhos. Os vinhos tintos devem estar entre 16°C e 18°C, enquanto os vinhos brancos você pode servi-los entre 8°C e 10°C para os mais leves, e 11°C a 13°C para exemplares mais encorpados e aromáticos.

A escolha de taças adequadas também pode influenciar significativamente a experiência de degustação, por isso, uma boa opção é o uso da taça ISO. Considerada “taça coringa”, ela foi projetada seguindo padrões internacionais para ser utilizada em degustações profissionais.

Alguns acessórios também são muito úteis durante a degustação, tais como papel e caneta. É importante anotar suas impressões sobre os vinhos que você experimenta, por isso, você pode usar um caderno de degustação específico ou simplesmente um bloco de notas e uma caneta.

Além disso, se você for degustar muitos vinhos, é recomendável usar um cuspidor para descartar o vinho após a degustação. Outro acessório útil é o decanter. Dependendo do vinho, é necessário oxigená-lo para liberar seus aromas. É especialmente útil para vinhos tintos mais jovens e encorpados.

E o mais importante: água! Não se esqueça de beber água entre os vinhos para limpar o paladar e assim evitar que os sabores se misturem, além de manter-se hidratado.

A análise sensorial

Para degustar vinho como um profissional, você deve seguir esses três passos: análise visual, análise olfativa e análise gustativa.

Análise visual

A primeira etapa é a análise visual, que nos permite identificar algumas pistas sobre o vinho ao inspecionar sua cor, intensidade, opacidade e viscosidade. Primeiramente, despeje uma pequena quantidade na taça, cerca de 75 ml. Inclinando a taça sobre um fundo branco (pode ser um guardanapo, uma folha de papel ou uma toalha), observe a cor do líquido.

A tonalidade e a intensidade podem indicar a idade e o estilo do vinho. Vinhos tintos mais jovens tendem a ser mais vibrantes, enquanto os mais velhos podem apresentar tons mais atijolados ou alaranjados. Já no caso de vinhos brancos, conforme envelhecem, a tendência é variar de tons esverdeados e pálidos ao dourado.

A limpidez é outro ponto a ser analisado. Caso trate-se de um vinho jovem, ele deve ser límpido e brilhante, sem sedimentos ou partículas, exceto vinhos que não passaram pelo processo de filtragem, especialmente os vinhos naturais. Outra exceção são os vinhos envelhecidos que apresentam borra e não foram decantados.

As famosas “lágrimas” do vinho também nos trazem alguns indicadores. Gire com cuidado a taça e observe como o líquido escorre pela superfície. Lágrimas lentas indicam um nível elevado de álcool, o que não tem relação com a qualidade; caso escorram mais rapidamente, estamos falando de um vinho com menor teor alcoólico.

Análise olfativa

A apreciação do aroma é uma parte crucial da degustação de vinho. Sem girar a taça, aproxime o nariz e inspire suavemente. Note se os aromas são intensos ou fracos, agradáveis ou desagradáveis. Em seguida, gire a taça suavemente e aspire novamente, desta vez mais devagar e por mais tempo, alternando entre inspirar e analisar. 

Em um primeiro momento, tente distinguir entre notas frutadas, florais, herbáceas e amadeiradas. Depois seja mais específico e procure identificar os aromas dentro de cada família, por exemplo, frutas cítricas, frutas vermelhas, flores brancas, especiarias doces, etc. 

Este é o momento de começar a compreender a variedade aromática do vinho – os aromas primários, secundários e terciários.

  • Aromas primários: são aqueles provenientes da uva, como frutado, floral e herbáceo.
  • Aromas secundários: aromas desenvolvidos durante a fermentação e maturação do vinhos, como pão, brioche, manteiga, baunilha, caramelo, frutos secos e especiarias. 
  • Aromas terciários: são resultantes do envelhecimento em barricas, como aromas de couro, tabaco, cacau, café e especiarias.

Detectando defeitos do vinho

É importante avaliar também a qualidade dos aromas, assim como a presença de defeitos. Se o vinho tiver sofrido oxidação, normalmente ele terá um odor semelhante à cidra de maçã, no caso de brancos, e se for tinto, um gosto seco e amargo. Caso o vinho tenha reduzido, ele apresentará cheiro de alho cozido, repolho ou ovo podre. Isso ocorre por falta de oxigênio durante a produção ou armazenamento, e a aeração pode melhorar os odores.

Outro defeito possível é o que chamamos de “bouchonné”, ou doença da rolha, que traz o cheiro de mofo ou papelão molhado ao vinho. Caso sinta odores de vinagre, acetona ou esmalte, possivelmente o vinho está com acidez volátil excessiva, causada por bactérias que convertem o álcool em ácido acético.

Já o Brett – abreviação de Brettanomyces – é um dos aromas mais controversos no mundo do vinho, dividindo opiniões entre apreciadores e especialistas. Alguns o consideram um defeito quando muito intenso, enquanto outros o apreciam como uma característica que agrega complexidade ao vinho.

Brett é um gênero de levedura que pode estar presente naturalmente nas uvas, no ambiente da vinícola e nas barricas de carvalho. Durante a fermentação, essa levedura pode consumir açúcares residuais e produzir aromas e sabores distintos, sendo os mais comuns couro, curral e animal. 

Avalie a intensidade dos aromas – fracos, médios ou intensos – e quanto tempo eles persistem na taça após a agitação – persistência curta, média ou longa.

Análise gustativa

Tome um pequeno gole de vinho e deixe que ele percorra todas as áreas da sua boca. Preste atenção à textura, acidez, doçura, taninos, álcool e corpo do vinho. Saboreie o vinho e perceba os diferentes sabores que se desdobram à medida que a bebida interage com a sua língua. Concentre-se em identificar ao menos três sabores de frutas, um de cada vez.

Avalie o equilíbrio entre doçura e acidez do vinho. Vinhos secos apresentam um nível mais baixo de açúcar residual, enquanto vinhos doces apresentam um nível mais elevado. Vinhos com acidez equilibrada são mais frescos e agradáveis ao paladar.

Presentes principalmente em vinhos tintos, os taninos são uma sensação de adstringência que pode ser percebida na língua e nas gengivas. Taninos macios e bem integrados são mais fáceis de beber, enquanto vinhos com taninos mais intensos podem ser mais adstringentes.

Avalie também o nível de álcool do vinho. Vinhos com alto teor alcoólico podem ser perceptíveis e aquecer a boca, enquanto vinhos com baixo teor alcoólico são mais leves e frescos.

Após engolir o vinho, observe o sabor que permanece na boca. Um retrogosto persistente e agradável indica um vinho de qualidade e com maior complexidade.

Por fim, o corpo do vinho refere-se à sua sensação na boca – se é leve, médio ou encorpado. A estrutura inclui elementos como acidez, taninos e álcool. Avalie como todos esses elementos se equilibram e contribuem para a harmonia geral da bebida. Um bom vinho terá uma estrutura bem equilibrada e um corpo que se alinha com o estilo da uva e o processo de vinificação.

Análise final

Ao longo do processo de degustação, faça anotações sobre o que você observa. Descreva a cor, os aromas e os sabores que percebeu. Isso ajudará a desenvolver suas habilidades de degustação e a criar uma memória sensorial para referência futura.

Com base em todas as suas observações, formule uma opinião sobre o vinho. Se desejar, você pode pontuar o vinho de acordo com uma escala de pontos.

Pratique e explore

Aqui não há segredos, quanto mais você degustar, mais familiarizado você se tornará com os diferentes tipos de vinhos e seus aromas e sabores. A experiência na degustação de vinho vem com a prática constante e a exploração de diferentes estilos, regiões e uvas. 

Participe de cursos e degustações, converse com especialistas e continue a aprimorar suas habilidades ao longo do tempo. Comece com vinhos mais simples e explore gradualmente diferentes tipos e estilos. 

E lembre-se: o mais importante é se divertir e aproveitar a experiência de degustar um belo vinho. Não se preocupe em ser um especialista, mas sim em explorar o que o mundo dos vinhos tem a oferecer. Saúde e boas degustações!

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