Viognier, a uva repleta de personalidade e riqueza aromática

Descubra os segredos desta variedade branca de alta qualidade, capaz de produzir vinhos elegantes e complexos

A Viognier, com sua personalidade complexa, tem conquistado cada vez mais apreciadores ao redor do mundo por sua elegância, expressão aromática e textura envolvente. Originária do norte do Rhône, na França, essa uva branca prospera nas encostas íngremes da pequena, mas muito especial, região de Condrieu.

Apesar de sua história antiga, a Viognier enfrentou dificuldades no século XX, sendo quase extinta. Porém, graças a viticultores da Austrália, e posteriormente de outros países, ela conseguiu sobreviver, alcançando o estrelato nas últimas décadas.

Quer aprender mais sobre a Viognier? Então acompanhe este artigo e descubra mais os segredos desta uva de alta qualidade, capaz de produzir vinhos elegantes e complexos.

Renascimento da Viognier: conheça sua história

A Viognier tem suas raízes no norte do Rhône, na França, florescendo na região de Condrieu. Há uma tese de que ela teria sido levada da costa da Dalmácia para a França pelo imperador Probus, contudo, não existem indicativos históricos de que ela seja croata. 

As análises de DNA feitas apontam parentesco da Viognier com a variedade Mondeuse Blanche, a tornando uma possível meio-irmã ou até avó da Syrah, porém, ainda não se sabe ao certo a ordem exata das relações.

De qualquer maneira, as evidências arqueológicas apontam o cultivo de Viognier na região desde a época romana. Porém, ao longo dos séculos ela perdeu espaço para outras variedades, quase desaparecendo na década de 1960, muito devido aos cuidados que seu cultivo exige e também por conta do seu baixo rendimento.

Foi então, uma década depois, que a Viognier começou a ressurgir pelas mãos de produtores de Eden Valley, na Austrália, que passaram a cultivar essa variedade quase extinta, ajudando-a a sobreviver.

Ao mesmo tempo, viticultores norte-americanos incentivaram o plantio de vinhas de Viognier em solo californiano, e graças a um interesse repentino na década de 1980, os produtores aceitaram o desafio de cultivar esta uva difícil e sua popularidade se expandiu para outras regiões da França, e para países como Espanha, Itália, Chile, Argentina, África do Sul, Nova Zelândia e inclusive Brasil.

Terroir e cultivo da Viognier

A Viognier possui cachos compactos e bagas de tamanho médio com casca fina e cor amarelo-dourado. Ela apresenta alto teor de açúcar, o que permite a produção de vinhos com elevado teor alcoólico, e boa acidez natural, o que contribui para o equilíbrio e a estrutura de seus vinhos.

Como mencionado, essa variedade é bastante sensível e seu cultivo requer muitos cuidados e atenção, o que a torna um desafio para os viticultores. A Viognier prefere climas quentes e secos, mas ao mesmo tempo, o calor excessivo e a seca a danificam. Outra condição climática que preocupa os produtores é quando o tempo está úmido e quente, pois ela é altamente suscetível a diversas doenças fúngicas, como míldio, oídio e podridão cinzenta.

De maturação tardia e baixa produtividade, a Viognier se desenvolve melhor em solos calcários bem drenados. O momento ideal da colheita também demanda bastante atenção, pois ele é fundamental para garantir o equilíbrio entre acidez, açúcar e aromas.

Apesar dos desafios no cultivo da Viognier, ela recompensa os produtores com vinhos únicos e aromáticos, de textura rica e com potencial de guarda impressionante.

Estilos dos vinhos elaborados com Viognier

Uma das características mais marcantes da Viognier é sua exuberância aromática, marcada por notas florais de violeta, rosa, flor de laranjeira e jasmim. Aromas de frutas de caroço, como pêssego, damasco e nectarina, misturam-se a frutos tropicais, tais como manga e abacaxi, e cítricos – limão, laranja e tangerina.

Porém, vale destacar que as notas cítricas geralmente não se manifestam como frutas frescas e ácidas, mas algo mais como um creme de tangerina suave ou doce de bergamota. Isso pode, inclusive, causar a impressão de que em boca o vinho terá certo açúcar residual, contudo, em sua maioria, eles são vinificados no estilo seco.

Além disso, nuances minerais (cera de abelha) e especiarias (pimenta branca, gengibre e cardamomo) podem surgir em vinhos de regiões específicas. A fermentação em barricas de carvalho pode adicionar notas de baunilha, mel, caramelo e coco.

No paladar, os vinhos são encorpados, com textura sedosa e equilíbrio notável entre acidez e untuosidade. Dependendo do estilo de vinificação escolhido pelo produtor, podem variar de secos – o mais comum – até vinhos de sobremesa. 

Principais regiões produtoras

O Rhône, especificamente no norte, continua sendo a referência para a Viognier, com a região de Condrieu produzindo alguns dos vinhos mais célebres do mundo. Nesta denominação, os rótulos devem ser elaborados 100% com a variedade. 

Château-Grillet é outra denominação, também ao norte do Rhône, onde os vinhos são feitos apenas com a Viognier. Esta pequena indicação é composta de um único produtor, Neyret-Gachet, que lança cerca de 10 mil garrafas por ano.

Entretanto, existem outras regiões francesas onde a Viognier pode ser misturada, principalmente com a Syrah. Em Côte-Rôtie, denominação de vinho tinto, até 20% de Viognier pode compor o blend a fim de ajudar a estabilizar a cor do Syrah e adicionar intensidade aromática ao vinho.

Ademais, a Viognier expandiu seus horizontes para outras regiões vinícolas, especialmente nos Estados Unidos, com destaque para Califórnia; na Austrália, em Barossa Valley e Adelaide Hills; em Stellenbosch, na África do Sul; e na América do Sul, com Chile e Argentina.

Viognier no Brasil

A uva Viognier ainda é relativamente nova no Brasil, porém, ela vem ganhando espaço entre alguns produtores nacionais. A região da Serra Gaúcha produz excelentes exemplares, além do Vale do São Francisco que também tem começado a se destacar na produção de vinhos.

Já a Serra da Mantiqueira podemos apontar como uma região promissora para a produção de Viognier, com terroir único e produtores habilidosos. Os vinhos da região apresentam a complexidade aromática típica da uva, com acidez equilibrada, e final persistente.

Harmonizações gastronômicas: a Viognier à mesa

A versatilidade da Viognier estende-se também à harmonização com a comida, permitindo a combinação com diversos tipos de pratos. 

Sua textura untuosa faz belo par com pratos gordurosos, como queijos de massa mole e delicados – Brie, Gruyère e Comté, além de peixes como salmão e robalo, carnes brancas com molhos cremosos, e ainda risotos e massas encorpadas.

Para pratos mais leves, como saladas de frutas do mar ou frango grelhado, um Viognier fresco e mineral pode ser a escolha perfeita. Em contraste, receitas mais condimentadas, como pratos da culinária asiática, um exemplar mais encorpado, com passagem por barrica de carvalho, pode equilibrar os sabores.

Procure trazer ingredientes que combinem com as notas encontradas nos vinhos, por exemplo, frango ao molho de tangerina, ou então linguado na manteiga com raspas de limão.

E a harmonização com a Viognier é completa, pois até a sobremesa pode acompanhar uma taça de vinho dessa uva. Aposte em doces à base de frutas cítricas e cremes brancos.

Viognier: uma celebração aromática

A Viognier é uma uva intrigante, capaz de produzir vinhos elegantes e complexos. Sua exuberância aromática, textura sedosa e versatilidade gastronômica a fazem uma escolha intrigante para enófilos em busca de novas experiências sensoriais. 

Com sua crescente popularidade, a Viognier está apenas começando a mostrar seu potencial, indicando que ainda tem muito a oferecer e continuará conquistando paladares por muitos anos.

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